O frigorífico Quickfood, controlado pela brasileira Marfrig, acertou a compra de 53 mil cabeças de gado da Adecoagro na Argentina e o aluguel das terras onde elas estão confinadas. Pelos ativos, a Marfrig pagará US$ 14,7 milhões - 50% à vista e a outra metade em um ano. Será arrendada uma área de 74 mil hectares em quatro Províncias argentinas: Corrientes, Formosa, Santa Fé e Santiago del Estero.
A proposta foi comunicada pela Quickfood à Bolsa de Buenos Aires e a Adecoagro, controlada por um fundo de investimento do bilionário americano George Soros, aceitou a oferta. O negócio ainda deverá ser analisado pela Comissão Nacional de Defesa da Concorrência - o Cade local.
Para a Marfrig, a aquisição é considerada " estratégica " , embora essas 53 mil cabeças representem menos de 3% do gado abatido anualmente por sua subsidiária argentina. Os frigoríficos preveem um cenário difícil para o setor em 2010 na Argentina, com queda de até dez milhões de cabeças em relação a 2007. As vendas internas e as exportações cresceram neste ano, mas basicamente à custa do abate de animais mais jovens e com alta proporção de fêmeas, o que reduz a reposição do estoque.
Com essa compra, segundo a Marfrig, o objetivo é ter condições de administrar melhor suas necessidades de gado para abate. A transação também inclui " acessórios " , como o aluguel de dois confinamentos para pecuária intensiva. Em resumo, representa um passo importante para a verticalização dos negócios da Marfrig na Argentina. No comunicado divulgado, as duas companhias dizem que vão " trabalhar de forma conjunta " em algumas atividades, como o processo de engorda e alimentação do gado. A Adecoagro é especialmente forte em grãos.
A Marfrig é dona da Quickfood, líder no mercado argentino de hambúrgueres com a marca Paty, desde 2007, embora já estivesse no país vizinho por meio de dois outros frigoríficos. O setor vive um momento delicado na Argentina e pode receber restrições oficiais hoje para a exportação de vários cortes de carne, por determinação da Secretaria de Comércio Interior.
O secretário Guillermo Moreno estuda o congelamento das vendas ao exterior de cortes congelados, por exemplo, até a redução de preços no mercado interno. Por meio de uma medida mais radical, o governo quer evitar aumentos de preço e escassez da carne nas festas de fim de ano.
O governo do ex-presidente Néstor Kirchner já havia suspendido as exportações de carne em 2006, por 180 dias, para conter a alta de preços. Muitos cortes, sobretudo os mais populares, têm acordos de preço com o setor privado, mas as autoridades dizem que eles podem ter sido descumpridos. O ministro da Economia, Amado Boudou, afirmou que " é difícil estabelecer em qual ponto da cadeia da carne se encontra o problema do aumento de preços " .