Mal concluiu a incorporação dos ativos da Santelisa Vale, criando a nova empresa de agroenergia LDC-SEV, o grupo francês Louis Dreyfus Commodities já traça planos de expansão no setor de açúcar e álcool. A companhia começa a definir seus novos projetos "greenfield" (construção a partir do zero), sobretudo na região de Mato Grosso do Sul, onde já possui três unidades produtoras.
A nova companhia tem capacidade para processar 40 milhões de toneladas de cana, o que a torna a segunda maior do setor no Brasil, afirmou Bruno Melcher, CEO da nova empresa. As metas do grupo são agressivas. "Temos agora uma companhia avaliada em R$ 8 bilhões. Pretendemos abrir seu capital, assim que as condições de mercado permitirem", disse. Será a segunda tentativa da empresa de ir ao mercado. A primeira foi em 2007, mas o grupo voltou atrás.
Com 13 unidades, a companhia sucroalcooleira deverá produzir cerca de 2,7 milhões de toneladas de açúcar e 1,5 bilhão de litros de álcool, além de possuir uma capacidade de 1 GWH/ano de energia a partir da biomassa, suficiente para abastecer uma cidade de 3,5 milhões de habitantes.
Melcher assumiu o comando da nova empresa, que tem a Louis Dreyfus como acionista majoritária, com 60% de participação. Os acionistas da Santelisa, que incluem as famílias Biagi e Junqueira Franco, além do BNDES e Goldman Sachs, ficaram, juntos, com 18%. Os bancos credores somam 9% e os novos investidores, que fizeram aporte de R$ 800 milhões e ainda estão ligados ao grupo francês, outros 13%. A dívida da companhia sucroalcooleira, estimada em quase R$ 3 bilhões (não confirmada pela empresa), foi alongada. As negociações foram assessoradas pelo time da Inspire Capital (ex-ING) e Signatura Lazard , do lado da LDC, e Angra Partners, pela Santelisa. A LDC fica com seis assentos na nova empresa, os acionistas com duas e os novos investidores com uma.
Para a LDC, só interessam os ativos na qual a Santelisa tem participação majoritária. Segundo Melcher, as empresas nas quais a companhia tem fatia minoritária deverão ser desfeitas. Entre elas estão a Tropical Bioenergia, na qual a Santelisa tem 25% (os outros 50% pertencem à British Petroleum e os 25% restantes pertencem ao grupo Maeda). Na Crystalsev, braço de comercialização de açúcar da Santelisa, a LDC deverá ficar com a infraestrutura dos terminais portuários e estocagem. A divisão de comercialização será descontinuada, uma vez que a LDC tem tradição de mais de 100 anos como trading. O projeto de Santa Vitória (MG), para uma planta de alcoolquímico, está ainda em análise.
As apostas do grupo francês LDC Commodities no setor de açúcar e álcool continuarão firmes, mesmo após a recente incorporação. "Nos últimos três anos o grupo investiu no Brasil cerca de US$ 2 bilhões, dos quais US$ 1,5 bilhão foi no setor sucroalcooleiro", afirmou Kenneth C. Geld, presidente da LDC Brasil. "Para o grupo, açúcar e álcool estão na moda."
Os projetos "greenfield" já começam a ser traçados. A meta é investir em Estados onde a companhia tem usinas instaladas - sete em São Paulo, três no Mato Grosso do Sul, duas no Nordeste (Paraíba e Rio Grande do Norte) e uma em Minas. "Provavelmente, os projetos serão construídos em regiões de novas fronteiras", disse Melcher.