O Brasil colhe neste ano uma safra de trigo menor do que a esperada e também de qualidade inferior, devido às intensas chuvas que atingiram as lavouras no principal Estado produtor, o Paraná, e terá de importar um volume maior do que o imaginado inicialmente, de acordo com fontes do setor.
Antes das chuvas afetarem as lavouras de trigo, gerando intenso ataque de doenças fúngicas, o Paraná poderia colher uma safra recorde e tudo indicava que o Brasil passaria com certa tranquilidade por mais um ano de baixa oferta em seu principal fornecedor, a Argentina.
Mas o cenário mudou. "O problema realmente ocorreu, a qualidade foi bastante afetada. Já está mais do que provado que há uma queda de produtividade, além de problemas de qualidade", afirmou nessa quinta-feira o analista de trigo da Conab (Companhia Nacional de Abastecimento) Paulo Magno.
Chuvas no trigo em época de colheita afetam a qualidade do produto, inviabilizando sua destinação para moagem, enquanto doenças fúngicas reduzem o volume colhido.
Magno, que se reuniu com produtores no Paraná nesta semana, não quis dar detalhes sobre a quebra de produção. E admitiu que as perdas devem aparecer no levantamento de safra da próxima quarta-feira, a ser divulgado pela Conab.
Na semana passada, o governo paranaense já reduziu para 2,7 milhões de toneladas a safra do Estado, ante um potencial produtivo de 3,5 milhões de toneladas e contra 3,2 milhões de toneladas no ano passado.
Os problemas no Paraná são de tal ordem que o setor produtivo já reivindicou junto ao governo a criação de um padrão alternativo de trigo, para que a Conab possa dar apoio à comercialização do grão de qualidade inferior, segundo a Ocepar (Organização das Cooperativas do Paraná).
A safra brasileira, sem se considerar as perdas pelas chuvas, poderia atingir 5,8 milhões de toneladas, número oficial que deverá ser revisado para baixo na semana que vem.
Os paranaenses já colheram quase metade de sua safra de trigo, informou nesta semana o governo. A colheita ainda não começou no Rio Grande do Sul, que junto com o Paraná colhe quase 90 por cento da produção brasileira embora o produto gaúcho não seja bem aceito para farinha de panificação.
IMPORTAÇÃO
"Eu acho que não vamos ter mais do que 3 milhões de toneladas de trigo para moagem (no Brasil) e mais ou menos 2 milhões de toneladas de trigo para ração (de qualidade inferior)", afirmou um trader de uma multinacional, que preferiu ficar no anonimato.
Com essa avaliação, o trader indicou que, considerando o consumo nacional e os atuais estoques, o país poderia ser levado a importar em 2009/10 (agosto/julho) cerca de 7 milhões de toneladas, contra 6,1 milhões de toneladas em 08/09.
Antes das chuvas, o governo previu importações de 5,3 milhões de toneladas na temporada, o menor volume desde 2004/05 esse número também deve ser atualizado na previsão da Conab.
O trader calcula que o Brasil, um país que figura entre os maiores importadores globais do cereal, poderia contar com importações de 3 milhões de toneladas de trigo da Argentina, 1 milhão de toneladas do produto do Uruguai e 3 milhões de toneladas do produto do hemisfério norte.
Ele não considera o trigo do Paraguai, que vinha compensando a menor oferta da Argentina, porque as lavouras paraguaias, assim como as do Paraná, foram atingidas por chuvas.
Um segundo trader de outra multinacional destacou que "esse é o pior momento para falar sobre estimativas". E acrescentou que apenas em 15 dias será possível ter um panorama mais claro. "O problema é fato, agora é preciso saber quanto está comprometido."
"Acho que o Brasil vai ter que contar com cerca de 3 milhões de toneladas no ano que vem, de outras origens, a partir de abril, maio", disse o primeiro trader.
Antevendo tal situação, a associação da indústria do trigo (Abitrigo) pede por isenção da tarifa de importação.