Pecuária bovina
Preços
Embora continuem seu ajuste para baixo, as últimas semanas foram de relativa estabilidade para os preços do boi. Em Araçatuba, as cotações foram de R$ 314/@ para R$ 313/@ para o boi comum, mas em Bauru houve recuperação, passando de R$ 317/@ para R$ 320/@ na terceira semana de dezembro. Por sua vez, no Mato Grosso do Sul, o recuo foi maior, com os preços do boi comum passando de R$ 311/@ para R$ 303/@ em Campo Grande na segunda metade do mês.
Demanda
Mesmo sem ultrapassar o resultado de outubro passado, quando foi registrada a máxima histórica das exportações mensais de carne bovina, o resultado dos embarques de novembro foi superior ao registrado no mesmo mês do ano passado. Considerando as estatísticas das duas primeiras semanas de dezembro, divulgadas pela Secretaria de Comércio Exterior, de forma acumulada, o ano de 2024 já ultrapassa em 21% o total das exportações de 2023. Nos últimos meses do ano, a China se destaca por suas compras, devido às preparações para o ano novo lunar que acontece no final de janeiro. Para o começo de 2025, são aguardadas as importações dos EUA, que, dado a sua virada de ciclo, vem reduzindo a oferta interna, o que deve se traduzir em mais compras de carne bovina do Brasil para atender ao mercado local.
Por outro lado, os preços domésticos acompanharam as baixas do boi gordo, mas essa reação foi tardia. Após uma alta contínua desde o início da segunda metade do ano, os preços domésticos voltaram a recuar. Acompanhando as baixas do boi gordo desde o início de dezembro, as cotações da carcaça casada em São Paulo voltaram para R$ 21,60/kg, após terem ultrapassado os R$ 23/kg na primeira semana do último mês de 2024. Como aconteceu desde o começo da alta vertiginosa nos preços do boi desde agosto, os preços internos sempre reagiram com um pequeno atraso, e agora não foi diferente. Enquanto em novembro os preços tanto físicos como na B3 do boi gordo avançavam sem pausa, por vários dias os preços internos se mantiveram estáveis. Já no começo de dezembro, quando as cotações do boi gordo começaram a recuar, foi quando os preços domésticos passaram a se elevar.
Oferta
Os abates totais voltaram a cair, com maior recuo para os abates de machos. Como os animais de confinamento costumam ficar prontos na última parte do ano, é quando usualmente se acostuma receber maior oferta de machos no mercado. No entanto o destaque em novembro ficou para a redução dos machos, que com 1,67 milhão de cabeças abatidas, representando uma contração mensal de 17%. Na última atualização de suas estimativas de abate e oferta de carne, feita com base nos números do SIF, a StoneX indicou que em novembro, 2,83 milhões de bovinos foram abatidos, o que indica uma redução de 12% com relação a outubro. O abate das fêmeas também se reduziu pelo quarto mês consecutivo, com uma baixa de 3% em relação ao mês anterior (totalizando 1,15 milhão de cabeças abatidas). A participação das fêmeas no total aumentou, passando de 37% para 41%.
Perspectivas
Após recuar no começo de dezembro, os preços futuros voltaram a se recuperar nos últimos dias. O contrato para janeiro de 2025, que estava em R$ 310/@ na semana passada, avançou novamente para R$ 322/@. Já a tela de fevereiro de 2025 permaneceu estável em R$ 307/@ nesta semana. Como indicado pelas estimativas da StoneX, a oferta continua se contraindo e, ainda que possivelmente a China compre menos no começo do ano que vem, tanto os Estados Unidos como outros compradores importantes tendem a continuar consolidando as suas posições, o que ajudaria a sustentar os níveis de preços atuais, ou pelo menos atenuar a forte queda vista nas últimas semanas que, ao mesmo tempo, é interpretada como a correção de uma alta que aconteceu rápido demais.
Soja
As cotações da soja em Chicago continuam mais enfraquecidas, abaixo do patamar de USD 10,00/bu, diante do cenário de balanço global mais folgado. Além disso, destaca-se que a forte desvalorização recente do real frente ao dólar contribuiu para pressionar os preços da oleaginosa na CBOT, já que favorece a competitividade da soja brasileira frente à norte-americana.
O plantio da soja está praticamente finalizado, com as perspectivas seguindo muito favoráveis, o que justifica a manutenção da expectativa de recorde, com a estimativa da StoneX em 166,2 milhões de toneladas. Mesmo assim, o clima continuará no radar. Na segunda quinzena de novembro, algumas regiões do Sul do país registraram umidade mais baixa, gerando alguma preocupação, mas as chuvas mais pesadas retornaram e as previsões ainda indicam bons volumes de precipitação.
A meteorologia aponta para um padrão mais seco em partes da região produtora da Argentina, o que deve reduzir a disponibilidade de água do solo, mas a situação ainda não considerada alarmante. É importante lembrar, também, que o ciclo da soja argentina é mais tardio, com as fases-chave de desenvolvimento, como o enchimento de grão, ocorrendo mais para frente. O clima continuará no radar nas próximas semanas e meses, mas, por enquanto ,a estimativa para a safra da oleaginosa no país se mantém acima de 50 milhões de toneladas.
Além do clima nos próximos meses, o foco deve começar a mudar para a definição da área do ciclo 25/26 dos Estados Unidos. Além disso, com o início do segundo governo Trump no país, a possibilidade da imposição de tarifas contra parceiros comerciais e de possíveis retaliações, a exemplo do seu primeiro mandato, está no radar.
Milho
Para o milho, os preços seguiram estendendo ganhos no mercado internacional, com o contrato contínuo em Chicago operando acima dos US¢440/bushel ao longo da segunda semana de dezembro. As revisões trazidas pelo relatório de estimativas de oferta e demanda do USDA deram força para os preços, ao sugerirem um consumo maior e, consequentemente, estoques de passagem menos amplos para a safra 2024/25. Quanto aos preços domésticos, tem-se observado um movimento contrário, muito provavelmente associado às boas perspectivas para a oferta brasileira de grãos.
O mercado seguirá atento principalmente à safrinha do Brasil, que começará a ser plantada no começo de 2025 após a colheita da soja. As perspectivas são positivas para a oleaginosa, o que deve favorecer um plantio dentro da normalidade para a segunda safra de milho. A StoneX projeta a safra brasileira do cereal em 128,28 milhões de toneladas, com 101,5 milhões de toneladas cultivados na safrinha. No entanto, se as condições climáticas seguirem favoráveis, o volume colhido pode surpreender positivamente.
No começo de 2025, além da safra brasileira, o mercado de milho estará atento à formação de governo nos Estados Unidos, com temores de acerca da política de biocombustíveis na nova gestão Trump, além de conversas sobre uma renovação da Farm Bill no radar do Congresso norte-americano. Como o país é o maior produtor de milho do mundo, qualquer novidade acerca da política agrícola local pode movimentar o mercado. Além disso, o fortalecimento global do dólar, após o Federal Reserve projetar a manutenção da taxa básica de juros para a economia americana em um patamar mais elevado por mais tempo, também é um fator relevante na formação das expectativas e no movimento dos preços. No Brasil, esse movimento do dólar tem sido amplificado por temores em relação à política fiscal do governo, o que fez com que a taxa de câmbio alcançasse máximas históricas no mês de dezembro, o que deve impactar os preços de produtos agrícolas domésticos e favorecer a competitividade das exportações brasileiras.