ABRIL 2025

Acompanhamento mensal de mercado | StoneX + Acrissul

24 ABR 2025 • POR StoneX | Acrissul • 15h12

Pecuária bovina

Preços
Após algumas oscilações entre fevereiro e março, o preço do boi gordo voltou a se fortalecer, especialmente desde o início de abril, quando as cotações se valorizaram semana após semana. Após as incertezas sobre qual seria o “novo piso” dos preços na B3, esse valor não apenas se manteve acima dos R$ 300/@, como alcançava R$ 327/@ até a escrita deste Acompanhamento.

Uma tendência observada nas últimas semanas é que os preços no Mato Grosso continuam superiores aos de São Paulo, consolidando um cenário aquecido no estado que mais abate bovinos no Brasil. Assim, na segunda semana de abril, foram registrados preços de R$ 335/@ em Rondonópolis, enquanto na média das praças paulistas o valor do boi ficou em R$ 324/@. Já no Mato Grosso do Sul, os preços físicos à vista giraram em torno de R$ 322/@ na média do estado, com os valores a prazo em torno R$ 319/@.

Demanda
O primeiro trimestre de 2025 consolidou-se como o melhor da história para as exportações da pecuária brasileira. Entre janeiro e março, o setor alcançou números expressivos, com destaque para o último mês, que registrou o embarque de 215 mil toneladas — um aumento significativo em relação às 166 mil toneladas do mesmo mês de 2024 e às 142 mil toneladas da média para março nos últimos três anos. Esses resultados refletem o fortalecimento do setor, impulsionado pela demanda internacional, com os maiores volumes destinados à China, responsável por 44,5% das exportações brasileiras de carne bovina em março. Em seguida, destacam-se os Estados Unidos (17,1%), o Chile (5,1%), a União Europeia (2,8%), o México (2,7%) e a Rússia (2,7%).

O grande tema da conjuntura global nas últimas semanas continuou sendo a guerra comercial protagonizada pelos Estados Unidos. Inicialmente mais focada em seus principais parceiros comerciais, a disputa acabou ganhando escala global, para depois voltar a concentrar-se na China. Vale lembrar que as duas potências — China e EUA — enfrentam déficits em seus balanços nacionais de carne bovina, dependendo de importações para suprir o consumo doméstico. Essa condição, aliada à reestruturação do comércio global, tem gerado oportunidades de negociação entre diversas economias, com a abertura de mercados asiáticos à carne brasileira.

Nesse sentido, o governo brasileiro vem buscando ampliar suas exportações, como nas tratativas do acordo entre a União Europeia e o Mercosul e, mais recentemente, com missões ao Japão e Vietnã realizadas em março, com o objetivo de expandir as vendas de carne bovina e suína e fortalecer os laços comerciais bilaterais. Embora sejam parceiros relevantes do agronegócio, esses países ainda têm participação tímida no setor de carnes. Em meio às medidas protecionistas dos Estados Unidos — que impõem tarifas sobre importações de diversos parceiros — observa-se um movimento global de diversificação de mercados, impulsionado, inclusive, pela retomada de negociações estratégicas e pelo crescente interesse de países asiáticos em firmar novos acordos com o Mercosul.

Uma pesquisa recente da StoneX Brasil destacou que, no Vietnã, as importações de carne bovina são predominantemente compostas por produtos congelados. Embora a Índia seja a principal fornecedora do mercado vietnamita, suas exportações concentram-se majoritariamente em carne congelada. Por outro lado, a pequena fatia de apenas 0,5% de carne bovina "in natura" importada pelo Vietnã é proveniente da Austrália, dos Estados Unidos e da Nova Zelândia.

No caso do Japão, observa-se uma participação mais expressiva de carnes frescas ou refrigeradas, o que reflete o padrão de consumo local, voltado para cortes mais nobres — comportamento diretamente ligado ao nível de renda do país. De acordo com o Banco Mundial, a renda nacional bruta per capita do Japão em 2023 foi de US$ 39 mil, enquanto no Vietnã foi de apenas US$ 4 mil. Essas diferenças econômicas também se refletem nos volumes importados: em 2023, o Vietnã importou cerca de 238 mil toneladas de carne bovina (cerca de 2,3 kg per capita), enquanto o Japão comprou mais que o dobro, somando 526 mil toneladas (4,2 kg per capita).

Dessa forma, não apenas pelo volume da produção, mas também pelo período em que a sazonalidade das compras desses potenciais novos parceiros costuma se concentrar, os próximos meses serão decisivos para a abertura e consolidação desses novos mercados. Missões sanitárias tanto do Japão quanto do Vietnã já agendaram visitas ao Brasil para inspecionar as condições dos frigoríficos e dar continuidade aos procedimentos necessários para o início dos envios.

Oferta
Na sua estimativa mensal de abates e oferta de carne, a StoneX atualizou os dados referentes ao mês de março de 2025. A estimativa, feita com base nos números do SIF, indicou que 3,15 milhões de bovinos foram abatidos no período, o que representa um avanço de 1,7% em relação a fevereiro. O abate de fêmeas, por sua vez, apresentou um novo aumento de 6% no mês, marcando o quarto mês consecutivo de alta — totalizando 1,70 milhão de cabeças abatidas. Vale lembrar que a safra do boi gordo é convencionalmente determinada pela temporada de chuvas, que vai de dezembro a maio. Por isso, nos próximos meses, com a redução da disponibilidade de pasto, é comum haver uma maior oferta de animais para abate.

Perspectivas
Embora a temporada de chuvas seja importante, já que a maior parte da produção não é confinada, o segundo trimestre marca um período estratégico para os confinamentos, especialmente no que diz respeito aos custos de reposição e de grãos. Do ponto de vista das margens para os confinadores, começam a se desenhar os cenários para avaliação das possibilidades. Isso porque, com a virada do ciclo pecuário e a retenção de matrizes, os preços dos bezerros tendem a subir — e é exatamente o que vem ocorrendo.

Da mesma forma, os preços do milho estão no centro das atenções, sendo a formação de custos um fator-chave nas próximas semanas, principalmente neste momento em que os sistemas produtivos intensivos costumam iniciar seu ciclo de engorda. Em síntese, apesar de a safra do boi estar em andamento, a virada do ciclo e o encarecimento da reposição, somados a uma demanda externa aquecida e com projeções firmes para o próximo semestre, vêm sustentando as cotações futuras. Os contratos para outubro de 2025, por exemplo, permanecem na faixa dos R$ 350 por arroba.

Soja
No último mês, as cotações da soja em Chicago registraram volatilidade acentuada, com quedas e altas consideráveis. O contrato mais próximo chegou a cair para abaixo de USD 10,00 por bushel, mas se recuperou, voltando para cima desse patamar. O principal fator movimentando o mercado foi a guerra tarifária entre Estados Unidos e China. 

Após o presidente Trump ter anunciado tarifas sobre a maior parte dos países do mundo, o governo chinês retaliou, adotando barreiras elevadas às exportações americanas. Essa situação afeta diretamente a competitividade de soja dos EUA, com a China devendo concentrar ainda mais as compras de soja do Brasil.

Esse “favorecimento” à soja brasileira pela China é um fator que contribui para fortalecer os prêmios nos portos nacionais, enquanto a cotação em Chicago tende a ficar mais pressionada. Mesmo assim, é preciso destacar algumas diferenças entre o momento atual e a guerra comercial ocorrida no primeiro mandato de Donald Trump, entre 2018 e 2019.

A China tem reduzido a participação da soja norte-americana em suas importações, além de nos últimos anos, o volume exportado pelo Brasil para todos os destinos ter crescido fortemente. Desde 2017, os embarques de soja brasileira aumentaram em mais de 30 milhões de toneladas, enquanto as importações chinesas cresceram cerca de 10 milhões de toneladas, o que significa que o Brasil pode atender com mais folga a demanda externa. Além disso, uma maior procura chinesa pela soja brasileira tende a deslocar outros compradores para os EUA, não havendo uma queda geral das importações chinesas de soja, como ocorrido entre 2018 e 2019, por causa do surto de peste suína africana, que dizimou 40% do rebanho do país. 

Por outro lado, o consumo interno de soja nos EUA pode ser reforçado, caso haja um aumento nos mandatos para o uso de biodiesel e diesel renovável, como vem sendo discutido no país. Essa situação tem sido um fator de suporte aos preços, mesmo com toda a incerteza relacionada à questão tarifária.

Além do lado da demanda, destaca-se que nos próximos meses o foco deve ser a safra americana, cujo plantio já começou. Como as expectativas apontam para uma queda de área, o clima vai ser ainda mais central para garantir uma boa produção e que não haja restrições no balanço de oferta e demanda do país.

Milho
Em 2 de abril, o presidente dos Estados Unidos, Donald Trump, anunciou uma série de tarifas sobre a maior parte dos parceiros comerciais do país. O temor de que retaliações por parte das nações afetadas pudessem trazer impactos para as exportações americanas pressionou as commodities negociadas no país, trazendo repercussões significativas para a soja, o algodão e o petróleo, por exemplo.

Nesse contexto, em que os mercados operaram sobretudo em baixa graças à imprevisibilidade da política tarifária dos EUA, o milho foi a commodity agrícola que se descolou dessa tendência, registrando forte alta no início do mês de abril, chegando a superar a resistência dos US¢ 490 por bushel em alguns momentos. Os principais compradores de milho americano receberam uma alíquota mais baixa – ou foram até isentos, como no caso do México, o que fez com que o mercado enxergasse as exportações do cereal dos EUA como menos ameaçadas pelas tarifas. 

Os preços em Chicago também reagiram em alta ao fato de que o USDA realizou uma revisão positiva para as exportações americanas. É esperado que o país embarque 64,8 milhões de toneladas de milho na safra 2024/25, o que corresponde a 2,6 milhões de toneladas a mais do que apontava a estimativa de março. O ajuste se traduziu em uma perspectiva de estoques finais mais apertados, trazendo a relação estoque/uso de milho dos EUA para 9,64%, um dos menores patamares dos últimos anos.

No mercado doméstico, também se observa um cenário de preços de milho mais apreciados em função dos menores estoques nessa época do ano. Enquanto a maior parte da safra brasileira de milho se concentra na safrinha – que só entrará com força no mercado a partir do segundo semestre – a primeira safra vem representando uma parcela cada vez menor da produção brasileira. Em um contexto em que o consumo doméstico segue muito aquecido, a oferta nacional tem se mostrado, no primeiro semestre deste ano, mais restrita.

Dessa forma, observa-se um contexto de menor disponibilidade de milho em algumas regiões do interior do Brasil, contribuindo para os preços elevados.