Pecuária leiteira

Seminário reforça qualidades nutricionais e consumo do Leite

Especialistas abordaram acerca do consumo do leite, mitos e verdades, além da diferença entre alergia à proteína do leite e intolerância à lactose

5 JUN 2024 • POR Da Assessoria, com informações da Assembleia Legislativa • 16h45

Na tarde desta terça-feira (4), a Assembleia Legislativa de Mato Grosso do Sul (ALEMS) realizou o II Seminário Estadual do Leite com a temática Mitos e Verdades, no Plenário Deputado Júlio Maia. O evento integra a Semana Estadual do Leite e foi realizado em parceria com a Cadeia Produtiva do Leite Mato Grosso do Sul e a Secretaria de Estado de Meio Ambiente, Desenvolvimento, Ciência, Tecnologia e Inovação (Semadesc), reunindo representantes do governo, de cooperativas, de associações, de entidades de classe, produtores, empreendedores do setor lácteo e alunos da Escola Estadual Vespasiano Martins.

Desafios do setor, qualidades nutricionais do leite, incentivo à industrialização, aumento do consumo e a desmistificação que o leite faz mal à saúde foram os destaques debatidos no evento, proposto pelo deputado estadual e coordenador da Frente Parlamentar do Leite do Legislativo, Renato Câmara (MDB).

"Nós temos a Semana do Leite onde discutimos vários aspectos relacionados à bebida. Muitas vezes a gente pensa só na produção e como produzir melhor, nos incentivos e financiamentos, nas técnicas de ordem ou de produção. Mas precisamos discutir a questão do consumo do leite. Nós temos visto, e com informações e estatísticas, que existe uma diminuição do consumo de leite. Existem alguns aspectos primeiro, que o leite é um produto agregado, e que para a pessoa mais humilde é um preço alto. E o segundo é que muita gente tem deixado de consumir o leite por acreditar em algumas fake news, em algumas mentiras, que denigrem esse produto sem abordar uma parte técnica e oficial. Então nós temos que abordar esse tema para desmistificar essas notícias falsas”, pontuou Renato Câmara.

Para o produtor e diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Ronan Salgueiro, o leite é alimento mais importante. “Aprendi com meu pai que o leite é o alimento mais importante da vida, e realmente é, pois você nasce e precisa deste alimento sagrado. Precisamos lutar para um futuro melhor na Cadeia Produtiva do Leite” enfatizou.

Conforme o secretário executivo de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (Semadesc), Rogério Beretta, a semana traz esclarecimentos e coloca o leite no lugar ideal, que é o de alimento nobre. “É uma satisfação estar aqui não apenas para discutir questões técnicas, os vários desafios e os temas a serem desenvolvidos, como o programa Proleite que será lançado, mas também para tentarmos alavancar o setor complexo que passa por um momento difícil. A busca da lucratividade passa por diversas etapas e precisamos trabalhar de modo conjunto, envolvendo toda a cadeia. Então, vamos fazer o uso deste importante alimento e colocá-lo no lugar ideal”, evidenciou.

O coordenador da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e presidente do Sindicato dos Laticínios de Mato Grosso do Sul (Silmes), Paulo Fernando Pereira Barbosa, explanou que Mato Grosso do Sul apresenta 12 mil produtores e 91 indústrias lácteas com capacidade para processar 920 mil litros de leite por dia, mas atualmente apresenta uma produção diária de 520 mil. “Temos hoje aqui na Assembleia um evento de informação de qualidade a respeito do leite. Especificamente falando do nosso Estado, a Cadeia Produtiva do Leite apresentou uma queda muito forte nos últimos anos e precisamos retomar o incentivo ao consumo, à produção e a industrialização. Precisamos que a indústria seja forte, para que o produtor também seja forte, e assim possamos apresentar aos nossos consumidores locais produtos de qualidade e variedade que agrade o paladar e também o bolso do produtor local aqui no Mato Grosso do Sul”, mencionou.

Paulo Fernando Pereira também ilustrou que em sete anos a captação da bebida caiu de 350 para 190 milhões de litro do leite por ano, representando uma baixa de 46%. “As notícias falsas publicadas e as falsas estatísticas e informações publicadas na internet muitas vezes são cruciais para que a população passe a ter o leite como sendo um inimigo e não um amigo na sua alimentação. Isso é uma das causas que a gente precisa combater para que o leite não caia no desuso”, destacou.

Mais de 90% do leite produzido no Estado abastece Mato Grosso do Sul e partes do Paraná e São Paulo, reunindo aproximadamente 80 mil pessoas envolvidas direta e indiretamente com a atividade leiteira.

Alergia ao leite de vaca e intolerância à lactose

A temática “Diferença entre alergia ao leite de vaca e intolerância à lactose, aspectos clínicos, gravidade e seguimento do paciente” foi proferida pela médica pediatra, alergista e imunologista, e presidente da Associação Brasileira de Alergia Regional-MS, doutora Stella Arruda Miranda. “A Associação Brasileira de Alergia não contraindica o consumo de leite pela população em geral. Inclusive, a população saudável é orientada a manter o consumo de leite e seus derivados, até mesmo pela condição nutricional, o aporte de cálcio, vitamina D, entre outros nutrientes oferecidos. Em diferentes alimentos precisariam de um volume muito maior para se atingir essa necessidade. O que recomendamos é que pacientes que tenham um histórico sugestivo de alergia ou de intolerância, sejam avaliados criteriosamente por um especialista, porque nos casos de alergia, sim, esses pacientes precisam ter uma orientação exclusiva e usar um leite específico. E os pacientes com intolerância à lactose, a única questão é o açúcar do leite, então ele pode continuar consumindo leite, mas com isenção desse açúcar”, esclareceu a médica pediatra.

Ela explicou a diferença da alergia à proteína do leite de vaca (APLV) e da intolerância à lactose. A APLV é uma reação do sistema imunológico à proteína e é mais comum em bebês. Em relação aos sinais e sintomas: manchas na pele, inchaço de olhos/boca, diarreia, vômitos, tosse e falta de ar. Para o diagnóstico é necessário fazer exames de sangue ou teste de alergia (em alguns tipos) e teste de provocação oral. O tratamento é a exclusão total de leite e de derivados e a maioria cura até os 5 anos.

Já em relação à intolerância à lactose, que é a dificuldade do organismo em digerir e absorver o açúcar, é mais comum em adultos. Os sintomas são apenas intestinais: diarréia, cólicas, gases e distensão abdominal (barriga estufada). Par ao diagnóstico é preciso observar os sintomas e em alguns casos são solicitados exames específicos. O tratamento é a restrição parcial ou total da lactose e o prognóstico é variável.

Ao finalizar, ela elencou algumas perguntas muito rotineiras: O leite inflama o corpo?: Não, não tem nenhuma relação de doença com o consumo do leite de vaca. É verdade que os asmáticos não podem beber leite?: Mito, o leite não aumenta a secreção em ninguém. O Leite ajuda a combater a osteoporose?: Sim, ajuda. Não pode tomar leite com manga?: Mito.

Alimento de grande valor nutricional

A nutricionista e doutora em Saúde, Teresa Cristina Abranches Rosa falou sobre “Leite sob a lupa, desmistificando mitos e verdades”. Segundo ela, a Associação Associação Sul-mato-grossense de Nutrição (Asman) e a Universidade Federal de Mato Grosso do Sul (UFMS) corroboram com as diretrizes nacionais e internacionais e o Guia Alimentar da População Brasileira. “O leite é um alimento nutricionalmente completo, rico e um alimento in natura. Dependendo do tipo de leite, ele é considerado um alimento minimamente processado. E nós consideramos que ele é um alimento benéfico para a saúde da população, desde que as pessoas não tenham algum tipo de restrição, como por exemplo a alergia a proteína do leite de vaca. E a intolerância à lactose, mas aí é possível que sejam feitas adaptações. Mas de uma forma geral, nós consideramos que é um alimento saudável e positivo, que deve ser incluído no contexto de uma alimentação balanceada e saudável”, confirmou.

A profissional também mencionou o antigo mito “Leite com manga mata?” e explicou que nas propriedades rurais na época da escravidão haviam muitas mangueiras e os escravos consumiam em abundância a manga. Assim, os senhores de engenho criaram essa lenda de que manga com leite mataria para que mantivessem o alimento nobre resguardado apenas para seu âmbito familiar. Os escravos então ficavam apenas com as mangas.

Ela elucidou as propriedades funcionais, componentes e os benefícios do leite, citou o quanto o alimento é essencial para as crianças menores de 2 anos, inclusive o leite materno na amamentação. Foi esclarecido também a importância do leite para os adolescentes, adultos e idosos, pois é um alimento versátil, completo, com fonte de cálcio, proteínas, fósforo, potássio e vitaminas A, D, B2 e B12. A profissional colocou acerca do leite de caixinha. “É seguro sim e inclusive existem várias regulamentações para preservar as características sensoriais e biológicas do produto. Se tiver dúvida ou fraude, é necessário denunciar e não demonizar ou excluir o leite da rotina alimentar”, citou.

Três mitos sobre o consumo do leite

Em seguida, o nutricionista e doutor em Saúde, Leonardo Aydos ministrou a palestra “Leite: Três mitos sobre seu consumo”. Ele detalhou sobre os mitos: “Leite não é uma boa fonte de cálcio”; “Leite causa osteoporose?” e “Leite inflama?”

O profissional salientou que é necessário saber a verdadeira informação. “Precisamos desmistificar uma série de coisas que estão acontecendo hoje em dia. Ao consumir um copo de leite você estará ingerindo uma grande quantidade de cálcio. A biodisponibilidade do cálcio em alguns vegetais é bem maior que o leite, mas não significa que será melhor, pois depende da quantidade total de cálcio”, apontou. Aproveitando a presença dos estudantes ele explicou a respeito do que o chat GPT apresentaria sobre o consumo do leite.

Leonardo citou os principais mitos do consumo do leite

Leonardo Aydos enfatizou sobre inúmeros estudos divulgados acerca do leite, inclusive do alimento causar osteoporose. “Há várias pesquisas científicas publicadas que as pessoas confundem as coisas. Em alguns países as taxas de osteoporose são menores e esses pesquisadores extrapolam em afirmar equívocos”, alertou.

Acerca da inflamação, o profissional apresentou estudos técnicos e disse que de forma alguma o leite é inflamatório. “Os derivados do leite, inclusive, podem agir de forma anti-inflamatória. Cuidado com as meias informações, precisamos analisar bem essas notícias!”, advertiu Leonardo Aydos.

Após as palestras aconteceu a mesa redonda de debates com a participação dos participantes e representantes da cadeia produtiva. “Esse é um tema importante porque nós sabemos que o leite é fundamental para o desenvolvimento cognitivo das crianças, principalmente nos primeiros anos de vida. E depois, o alimento é fundamental para o crescimento na puberdade. Ainda temos a fundamental importância para a manutenção da massa magra, dos músculos e ossos do corpo. E a Semana do Leite tem esse objetivo de mostrar o leite, aumentar o consumo e tratar todos os aspectos que envolvem um produto que é um alimento tradicional do ser humano. Há milhares de anos se consome leite e nós estamos nesse ano focando no sentido de quebrar esses mitos, falando sobre a verdade do leite,” finalizou o 1º vice-presidente da ALEMS, Renato Câmara.

Legislação

O seminário integra a Semana Sul-mato-grossense do Leite, instituída pela Lei nº 4.409 de 2013, realizada anualmente na semana que ocorrer o dia 1º de junho - Dia Mundial do Leite. A data integra o anexo do Calendário Oficial de Eventos do Estado. Dentro da programação da Semana, também aconteceu nesta manhã, na sede da Assembleia Legislativa, o tradicional ato "leite da manhã" (veja a matéria).

Além do proponente do seminário, deputado estadual Renato Câmara, participaram o secretário executivo de Desenvolvimento Econômico e Sustentável (Semadesc), Rogério Beretta, o coordenador da Câmara Setorial da Cadeia Produtiva do Leite e presidente do Sindicato dos Laticínios de Mato Grosso do Sul, Paulo Fernando Pereira Barbosa, a presidente do Conselho Regional de Engenharia e Agronomia de Mato Grosso do Sul (Crea-MS), Vânia Abreu de Mello, a diretora da Associação dos Criadores de Mato Grosso do Sul (Acrissul), Aurora Real e o diretor da Associação Brasileira dos Produtores de Leite (Abraleite), Ronan Salgueiro.