Recuo no preço da arroba atinge sobretudo as praças pecuárias do Centro-Oeste
A tendência de baixa nas cotações deve perdurar até pelo menos os últimos dias de agosto, que serão marcados pela continuidade da conjuntura atual
O fraco apetite comprador das indústrias frigoríficas e a oferta acima da demanda derrubaram novamente os preços do boi gordo nesta quinta-feira (25/8) em algumas importantes praças brasileiras, informam as consultorias que acompanhan diretamente o mercado pecuário. “A semana avança e, com ela, a pressão negativa empregada nas cotações da arroba por todo o País”, relata a IHS Markit.
Segundo a consultoria, alguns pecuaristas bem que tentam segurar a oferta de seus poucos lotes de boiadas gordas, com a expectativa de retornar ao mercado lá na frente, quando, teoricamente, os preços da arroba tendem a subir na esteira do avanço da entressafra. Porém, diante da enorme falta de interesse dos frigoríficos e dos altos custos do confinamento, muitos produtores acabam abandonando no meio do caminho a estratégia de redenção do gado, aceitando preços mais baixos pela arroba.
Na visão da IHS, a tendência de baixa nas cotações do boi gordo deve perdurar até pelo menos os últimos dias de agosto, que serão marcados pela continuidade da conjuntura atual. “O ritmo fraco nas vendas de carne bovina no mercado interno e o menor apetite comprador dos frigoríficos no mercado spot devem permanecer nas semanas vindouras, renovando os movimentos de recuo nas cotações nas principais praças brasileiras”, ressalta a consultoria.
Nesta quinta-feira, a IHS Markit captou quedas fundamentadas pelo cenário delineado. No Mato Grosso, as praças de Cáceres, Tangará da Serra e Cuiabá registraram recuo de R$ 275/@ para R$ 270/@. Em Colíder/Sinop, a cotação caiu de R$ 270/@ para R$ 265/@. Em Mato Grosso do Sul, players de menor porte se beneficiam da ausência dos abates na JBS de Nova Andradina (ainda em férias coletivas), condicionando preços em ritmo decrescente.
Assim, em Dourados e Campo Grande, a IHS Markit registrou queda de R$ 280/@ para R$ 275/@ na arroba do boi gordo. Por outro lado, observa a IHS, a oferta de boi gordo mostra seus primeiros sinais de exaustão em Rondônia. “Indústrias locais já relatam que a fraca disponibilidade de animais e a dificuldade em originar gado terminado impulsionou os preços na região de R$ 260/@ para R$ 265/@”, informa.
De toda forma, continua a consultoria, a relação entre oferta e demanda segue prejudicada pela fraca procura e, com isso, as indústrias do País permanecerão testando novos recuos nos preços, renovando a pressão de baixa. No mercado paulista, poucos negócios foram observados nesta quinta-feira, com parte dos frigoríficos permanecendo fora das compras de matéria-prima, relata a Scot Consultoria.
“As escalas confortáveis na maioria dos frigoríficos têm permitido tal cenário em São Paulo”, justifica a Scot. Com isso, o preço do boi gordo paulista segue estável, valendo R$ 293/@, enquanto a vaca e a novilha gordas são negociadas por R$ 274/@ e R$ 288/@ (preços brutos e a prazo). Bovinos com até quatro dentes, direcionados ao mercado da China, estão cotados em R$ 305,00/@ no mercado paulista, informa a Scot.
No mercado atacadista da carne bovina, o posicionamento fraco e irregular dos compradores na cadeia de distribuição e no varejo segue inalterado e assim deve permanecer até o final da próxima semana, prevê a IHS. Proteínas concorrentes, como suínos e aves, seguem mais competitivas, elevando o consumo interno em detrimento da carne bovina, produto mais caro.
Porém, dizem os analistas, o início do recebimento dos ajustes dos auxílios financeiros por parte do governo federal (programas de distribuição de renda) pode direcionar parte deste valor para o consumo da proteína bovina. “No entanto, até o momento, os atuais patamares de preços dos cortes bovinos não possuem atratividade para incremento dessa procura”, observa a IHS.